segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Parnasianismo







Vista do Rio de Janeiro, tomada de Santa Tereza. Jorge Grim  1883.




Por esta imagem de Van Gogh, intitulada Noite, o professor pode contextualizá-la ao poema A FLORESTA de Augusto dos Anjos,que mescla elementos do Parnasianismo e do Simbolismo. A obra do autor é marcada pelo rigor da forma e pela temática permeada pelo pessimismo e idéias sombrias. O poeta morreu jovem, aos 30 anos, em novembro de 1914.




                                                      Olavo Bilac (1865/1918)

Formação em Medicina, o menino Bilac teve sua infância povoada de histórias de batalhas e hinos militares, pois seu pai participara da Guerra do Paraguai. Após 1888, com a publicação de Poesias, passa a dedicar-se ao jornalismo e à literatura.


Via Láctea - Soneto XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."




                                                  Alberto de Oliveira (1857/1937)

Formação em medicina, mantém profunda amizade com Olavo Bilac e Raimundo Correia. É um dos sócios fundadores da ABL, sendo também eleito Príncipe dos Poetas após a morte de Bilac.

Vaso Grego
Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois. Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.

                     


                                           Raimundo Correia (1860/1911)
Formação em Advocacia, lecionou em quase toda a vida. Tem seu livro Sinfonias (1883), completamente parnasiano, publicado com prefácio de Machado de Assis. Também é sócio fundador da ABL.


As Pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas,
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No Azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais. ..



                                  
                              Vicente de Carvalho (1860/1911)


Profissão de Fé
Le poète est ciseleur.
Le ciseleur est poète.


Não quero o Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.

Que outro — não eu! a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.

Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.

Invejo ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O oníx prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-!he ao corpo a ampla roupage
Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina.
Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever — tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir. Deusa serena.
Serena Forma!
(...)

Ver esta língua, que cultivo,
Sem ouropéis,
Mirrada ao hálito nocivo
Dos infiéis!...

Não! Morra tudo que me é caro,
Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!

Que minha dor nem a um amigo
Inspire dó...
Mas, ah! que eu tique só contigo
Contigo só!

Vive! que eu viverei, servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.

Celebrarei o teu ofício
No altar: porém,
Se ainda é pequeno o sacritício,
Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança,
Porém tranqüilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em pro! do Estilo!
Rio de Janeiro, junho de 1886








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